terça-feira, 25 de setembro de 2012

O imperador e sua corte em Batatais – primeira parte
Sérgio Corrêa Amaro
                        Os trilhos da Mogiana (Companhia Mogiana de Estradas de Ferro) chegaram a Batatais acompanhando o desenvolvimento da economia cafeeira a partir de 1830 pelo chamado “Oeste Paulista” - extensa região que vai  de Campinas (oeste velho) a Ribeirão Preto (oeste novo) -  o “oeste” não é, naturalmente, geográfico, mas apenas referenciado às regiões de plantio mais antigo do Rio de Janeiro, Parati e Angra dos Reis e à região onde o café floresceu de fato, o Vale do Paraíba (leste de São Paulo e sul do Rio de Janeiro).
                        No mês de outubro de 1886 D. Pedro II, a imperatriz Dona Teresa Cristina e um reduzido e ilustre séquito de autoridades e nobres empreenderam viagem partindo do Rio de Janeiro com direção a São Paulo e Minas Gerais, visitando igrejas, instituições, engenhos, fábricas, cidades e inaugurando trechos e estações da estrada de ferro Mogiana.
                        Em Batatais suas majestades chegaram no dia 25 de outubro por volta do meio-dia, procedentes de Ribeirão Preto, recebidos pela Câmara Municipal incorporada, autoridades e população local e da vizinhança.
                        A ata da Câmara de 25 de outubro de 1886 assinala que houve muitas “girândolas” (fogos de artifício), demonstrações de cortesia e banda de música que tocou o hino nacional e canções italianas, estas, com certeza, para agradar à imperatriz, napolitana de nascimento, princesa das Duas Sicílias. Por feliz coincidência, Dona Teresa Cristina nasceu a 14 de março (1822), data da elevação de Batatais a vila (1839).
                        Da estação, o casal imperial desceu à cidade em carro puxado por duas parelhas de cavalos brancos,       lembrando que havia uma distância de “apenas” três quilômetros, praticamente sem nada à volta, de terra batida, antiga rua da Estação, atual avenida 9 de Julho e visitou a igreja Matriz, o cemitério, a Santa Casa, algumas contribuições em dinheiro para instituições, igreja e para alforria de escravos e foi recepcionado em uma das melhores residências batataenses, para descanso e o chá.
                        Pouco ou nada se fala, porém, a respeito de quem acompanhava Dom Pedro II em suas andanças de inaugurações ferroviárias pelo interior paulista naquela época. Do fato nos dão notícia a ata da câmara de Batatais e publicações em jornais e periódicos, pois as viagens do imperador eram largamente registradas por repórteres do Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas.
                        Para este trabalho valemo-nos da Revista de Engenharia, especialmente a edição número 149, de novembro de 1886, publicada no Rio de Janeiro, conservada e digitalizada pela Biblioteca Nacional.
                        Os personagens desta “excursão imperial” a Batatais foram o barão de Sabóia, os viscondes de Paranaguá e Parnaíba, o conselheiro Antônio Prado e o general Miranda Reis.
                        O general Miranda Reis (José de Miranda da Silva Reis) foi político e militar carioca (1824-1903), governador das províncias do Mato Grosso e Amazonas, diretor da Escola Superior de Guerra, lutou com bravura na Guerra do Paraguai, tendo alcançado a patente de marechal, agraciado em várias ordens militares e religiosas, recebeu o título de barão com grandeza de Miranda Reis em 1881. À época da visita a Batatais possuía a patente de tenente-general.
                O conselheiro Antônio Prado foi um destes homens “polivalentes” que não se fazem mais: advogado, fazendeiro, político e empresário paulista (1840-1929), era Ministro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, presidente por 30 anos da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, daí a explicação de sua presença em Batatais, não fosse ele mesmo grande produtor de café na região de Ribeirão Preto, Guatapará e Santa Cruz das Palmeiras. Estadista, participou da elaboração da lei Saraiva-Cotegipe (ou lei Sexagenária), incentivou a imigração italiana para o Brasil, foi pioneiro ao criar o balneário do Guarujá, banqueiro (antigo Comind, vidraria Santa Marina, frigoríficos), primeiro prefeito de São Paulo, construiu o Teatro Municipal de São Paulo, a Pinacoteca do Estado e a Estação da Luz, fundou o Partido Democrático, foi pioneiro, também, nas ações de reflorestamento.
Publicado em "A Notícia"