A história da imprensa em Batatais é
mais do que centenária; as poucas informações que tínhamos em Jean de Frans
(José Augusto Fernandes) no livro Bom Jesus da Cana Verde – Batatais de Outrora
(São Paulo, 1.939) e as do trabalho publicado na Revista do Instituto Histórico
e Geográfico de São Paulo por Lafayette de Toledo “Imprensa paulista – memória
histórica” (volume III, São Paulo, 1898) não coincidiam quanto ao ano da
fundação do primeiro jornal de Batatais: Jean de Frans apontava 1882 e o artigo
da revista do IHG/SP 1881. Os dois autores concordavam quanto ao nome do
jornal, “O Século” e o nome do fundador, César Ribeiro.
Até recentemente não havia notícia da
existência de nenhum exemplar de “O Século”, seja nos arquivos e bibliotecas de
Batatais, seja em outros repositórios. Por feliz acaso, descobrimos o número 8
de “O Século” na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro que nos cedeu cópia
digitalizada daquele nosso primeiro semanário, publicado em um domingo, 3 de
julho de 1881, cuja primeira página
ilustra o presente artigo.
A pesquisa em outras fontes
jornalísticas da época se mostrou frutífera, pelo Correio Paulistano, de
Joaquim Roberto de Azevedo Marques, número 7286, de 16 de março de 1881, confirmamos que “O Século” apareceria “em
breve” em Batatais, “semanário noticioso, literário, agrícola e comercial, de
propriedade de uma associação particular e redator César A. Ribeiro”.
Não dispondo de outros exemplares,
somos levados a crer que, de fato, “O Século” tenha publicado o primeiro número
em março de 1881. O momento vivido por
Batatais nas décadas finais do século XIX foi paralelo ao que se convencionou
chamar de Belle Époque paulista (ou
caipira): a riqueza proporcionada pelo café, chegada da ferrovia ao interior, indústria
nascente, revitalização do comércio, intensa urbanização e entrada de grande
número de imigrantes, especialmente italianos.
Os tempos eram outros se comparados aos
períodos anteriores, a elite rural -
dona de terras, escravos, capitais e
do mando político – se aliava aos bacharéis, professores e profissionais
liberais, a elite “intelectual”. O
interior refletia, de certo modo, o que ocorria nas grandes cidades e na
capital do Império, o Rio de Janeiro, a tentativa de engrandecimento pelo
refinamento à maneira de Paris, capital do mundo na época, a ditar moda,
estilos arquitetônicos, arte e literatura, tudo mediado pela imprensa
periódica, os jornais e revistas que traziam o mundo “de fora”.
As cidades do interior paulista desde
logo se mostraram propensas a acompanhar o movimento de fortalecimento da
imprensa periódica, ter um jornal próprio era motivo de orgulho, era um claro
sinal do “progresso” social e tecnológico da Belle Époque, o modo de expressão da intelectualidade local.
Assim, o aparecimento de “O Século” em
Batatais respondia aos anseios de um grupo de professores, advogados,
profissionais liberais e políticos ávidos por um meio de expressão em letra de
forma, oportunidade para exposição de ideias e debates e, até, do
“esclarecimento” da população menos letrada.
Aquele nosso primeiro jornal não teve
vida longa, menos de um ano, foi uma “rosa de Malherbe” pois na virada de 1881, os redatores César Ribeiro
e Gaspar da Silva, ambos portugueses, se transferiram para Franca e lá fundaram
o famoso “Nono Distrito” em janeiro de 1882.
Destes primeiros jornalistas de
Batatais – César Ribeiro e Gaspar da Silva, de vida aventurosa em vários pontos
do Brasil, envolvidos na maçonaria, na
fundação de escolas e vários jornais, no abolicionismo, no movimento
republicano e em muitas polêmicas pela imprensa trataremos em outras
oportunidades.
Publicação original com foto em "A NOTÍCIA VIP" - Batatais, ano I, número 7, dezembro de 2014