Se a brasilidade tem
“marcas” ou “identidades” culturais, com certeza o carnaval é uma delas e, em
qualquer ponto do planeta, se tocar samba ou marchinha, a imagem que vem à
cabeça é aquela verde-amarela, morena que remexe as cadeiras ou o malandro
risca-faca: gol do Brasil!!!!
A partir da primeira música criada
especialmente para o carnaval - o famoso “Ó abre alas” por Chiquinha Gonzaga,
em 1899 – a marchinha foi se consolidando nos primeiros anos do século XX,
atingindo o auge durante as décadas de 1920 e 1960, momento a partir do qual
entrou em declínio, superada, em parte, pela música estrangeira, mais barata de
ser produzida e divulgada e a popularização dos desfiles de escolas de samba, bem
como a entrada da televisão em cores e a chegada de outros ritmos dançantes,
mais ou menos descartáveis, ao sabor dos modismos que não ultrapassam um verão.
Pode-se dizer, sem margem de erro,
que as marchinhas são a própria “cara” do carnaval brasileiro, aquele mesmo
carnaval com foco irradiador no Rio de Janeiro e que atingiu todo o País com
formas e cores diversas, tonalidades regionais ou o que for, mas no imaginário
coletivo as marchinhas sempre tiveram lugar de destaque, cantadas de Norte a
Sul, em ritmo acelerado com letras ligeiras e de duplo sentido, críticas à
carestia da vida, ao governo, às dores de amor, à dor-de-cotovelo, às loiras,
morenas e às mulatas, à cachaça ou nada com nada. Quem pode dar sentido para
“mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar...” dos impagáveis Vicente Paiva e Jararaca?
Ao longo de décadas, músicos e
compositores deram o melhor de si para que sua marchinha “pegasse” no Carnaval.
A maioria era lançada no meio do ano e o rádio divulgava “de graça”. Assim,
quando chegava fevereiro, a marchinha “explodia” nas ruas e salões, um “grude”
nos ouvidos.
O cortejo de autores e cantores é
brilhante e imenso: Sinhô, Noel Rosa, João de Barro, o Braguinha, Ary Barroso,
Lamartine Babo, Mário Lago, Nássara, Klécius Caldas, David Nasser, João Roberto
Kelly,Sílvio Caldas, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Marlene, Carmen
Miranda, Mário Reis, Francisco Alves, Blecaute,
Noite Ilustrada, Joel de Almeida, Sílvio
Santos, Moacir Franco e até o...Chacrinha!
Brigados
de amor? Voltem às boas, sempre tem “aquela” seleção para dançar abraçados e
fazer as pazes ao som de Bandeira Branca, Máscara Negra, Eu Vinha pela
Madrugada, Jarro da Saudade, Turbilhão, pois, como diz o poeta, “a nossa vida é um carnaval,
a gente brinca escondendo a dor e a fantasia do meu ideal é você, meu amor...”
Do entrudo ao baile de máscaras,
dos ranchos e cordões ao corso das melindrosas, dos concursos de fantasias aos desfiles televisivos, o carnaval passou
por perdas e mudanças, algumas irreparáveis, como as “guerras” de flores e
confete, lança-perfume, os esguichos de água nas pessoas e carros, o baile do
Municipal e os concursos de fantasias; outras mudanças foram apenas de
intensidade, como é o caso das marchinhas e os bailes de salão.
De ano a ano, o Carnaval de
Marchinhas do 14 de Março cresce e ganha mais foliões; os blocos se enfrentam
com confete e serpentina, as fantasias ganham formas e cores, as crianças têm o
seu espaço garantido, a banda ataca com as inesquecíveis Cabeleira do Zezé, Maria
Sapatão, Cidade Maravilhosa, Taí, Quem Sabe, Sabe, Marcha do Remador, Colombina
yêyêyê, o Saca-Rolha, Touradas de Madri, Me dá um dinheiro aí, Pirata da Cara
de Pau, Doce de Coco, todos os sambas de enredo e, claro, Fio Maravilha,
verdadeiro “hino” só nosso, no final. Além das cinzas, a canja da madrugada!
Perto de completar 85 anos, pois
fora fundada em 1930, a Sociedade Recreativa 14 de Março, mais conhecida
simplesmente por “Clube”, vem recuperando desde 2012 a tradição dos bailes de
carnaval com marchinhas, sempre no sábado anterior ao carnaval oficial, para
que todos os foliões possam brincar e pular e, depois, no Carnaval propriamente
dito, viajar, descansar ou assistir aos desfiles das Escolas de Samba, afinal,
Batatais reina soberana nesse quesito.
A Diretoria atual, pela sua
Presidente, Dra. Patrícia Drosghic Vieira Kehdi, homenageia os fundadores do
“14 de Março”, diretores, funcionários e sócios, parceiros,
amigos e, por que não dizer? Foliões dos carnavais de ontem e de hoje, com
a foto de um carnaval datada do final
dos anos 1930 ou começo de 1940, vendo-se no canto direito, de pé, o
fundador Gustavo Simoni.
O Brasil deu o carnaval, o Rio de
Janeiro deu o samba, mas quem (re)inventou a marchinha foi Batatais!