quinta-feira, 3 de maio de 2012

Frei Galvão: um santo de sangue português, bandeirante e indígena

Sérgio Corrêa Amaro *

                               Primeiro santo nascido brasileiro, Frei Antônio de Sant´Anna Galvão foi elevado à honra dos altares pelo Papa Bento XVI em maio de 2007, quando da visita do Sumo Pontífice ao Brasil e o evento revestiu-se de maior significado, pois foi a primeira canonização realizada fora do Vaticano.
                               Quarto filho de Antônio Galvão de França, um rico comerciante português, e de Isabel Leite de Barros, membro de velhos troncos paulistas, Frei Galvão era natural de Guaratinguetá, onde nasceu aos 10 de maio de 1739, tendo falecido em São Paulo, em 23 de dezembro de 1822.
                               A leitura da vida e obra de Santo Frei Galvão traz algumas revelações bastante interessantes, inclusive algumas curiosidades genealógicas, nem sempre encontráveis em textos oficiais da Igreja.
                               De início, é oportuno ressaltar que o jovem Antônio incorporou o nome religioso “Sant´Anna”  por dois motivos: em razão de sua defesa incondicional do título de “Imaculada” da Virgem Maria, conceito ainda  bastante polêmico na época de sua profissão de fé, em 1761, e pela devoção especial de sua família a Santa Ana, a mãe de Maria de Nazaré e avó de Jesus Cristo.
                               Naquela segunda metade do século XVIII, o Marquês de Pombal atirou-se a expulsar a ordem dos jesuítas de Portugal e das colônias por motivos políticos e em nome de uma maior concentração de poder nas mãos do rei D. José I. Assim, Frei Galvão desiste de estudar nos conventos jesuítas da Bahia, transferindo-se para o Convento de São Francisco, em Taubaté, a conselho do pai.
                               Frei Galvão não se limitou a uma vida religiosa simplesmente contemplativa, foi místico, líder espiritual de ordens religiosas, poeta, homem de prestar serviços aos pobres e doentes, arquiteto, mestre de obras e até exerceu o ofício de pedreiro, quando da construção de igrejas e recolhimentos.
                               O aspecto miraculoso mais  popular  do santo ocorre com a distribuição das famosas “pílulas de Frei Galvão”, capazes, segundo a crença, de curar doenças e indicadas especialmente na solução das dificuldades de engravidar e do parto.
                               Os estudos genealógicos da família de Frei Galvão, até onde a documentação histórica permite, apontam para o fenômeno bastante comum entre os brasileiros da miscigenação e dos casamentos interraciais.
                               A muitos pode surpreender o fato deste santo brasileiro ter em suas veias sangue de origens tão distintas quanto o pai, português do Algarve, alguns ancestrais das Ilhas dos Açores, como Pascoal Leite Furtado ou o português continental e  povoador  do arquipélago da Madeira, João Gonçalves Zargo (ou Zarco), que teve continuação do nome em “da Câmara”.
                               Pelo lado materno, Frei Galvão descendia ao menos duas vezes do célebre bandeirante Fernão Dias Pais Leme (1608-1681), o caçador de esmeraldas, com larga geração.  Junte-se ao sangue heroico do bandeirante paulista e sua prole, os gens indígenas dos caciques Tibiriçá e Piqueroby, cuja filha, batizada com o nome cristão de Antônia Rodrigues por Anchieta, foi uma das sétimas-avós de Frei Galvão.
                               Entre nós, batataenses, Germano Moreira, por seu pai Hipólito Moreira dos Santos, consta como um dos muitos “primos” ou “parentes” genealógicos de Santo Frei Galvão, com vários ancestrais em comum na árvore de costados, o que não deixa de ser uma benção, quando não uma honra e um grande privilégio.

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