domingo, 6 de maio de 2012

NOSSAS RAÍZES MINEIRAS – Barbacena
Sérgio Corrêa Amaro *
                        Em artigo anterior tratamos, em linhas bastante gerais, das questões de divisa entre São Paulo e Minas Gerais, destacando o povoamento resultante da descoberta do ouro e, mais tarde, da entrada de “mineiros” no território delimitado pelos rios Pardo e Sapucaí, a partir do Sul de Minas para o Sertão do Rio Pardo, parte do atual Nordeste de São Paulo, onde se situa Batatais.
                         Os “Maços de População de São Paulo” foram recenseamentos feitos entre 1765 e 1850 e abrangem a totalidade da população da Capitania e depois Província de São Paulo, o foco do trabalho de elaborar "mapas” nominais de livres e escravos serviria, de início, para a contagem de homens para composição de um provável exército contra os espanhóis acantonados na região do Rio da Prata, porém, mais tarde, serviram para implementação de políticas da Coroa Portuguesa quanto ao povoamento, agricultura e comércio.
                         Um dos quesitos das listas de população era a “naturalidade”; nos censos em que se encontram dados referentes a Batatais, a partir de 1812, num apenso do levantamento referente a Nossa Senhora da Conceição (atual Franca) e com mais nitidez nos censos de 1814 em diante, muitos habitantes, talvez a maioria, eram descritos como oriundos “das Gerais”.
                          Como se sabe, Germano Alves Moreira e sua mulher Ana Luísa doaram as terras para construção da atual Igreja Matriz e todo o entorno, lugar denominado “Cabeceira das Araras”, composto de campos e restingas (Livro de Tombo número 1, Igreja do Bom Jesus da Cana Verde de Batatais).
                          Germano Moreira era possuidor de sesmaria de “légua e meia” de frente e de fundos, tudo conforme carta levada a registro em 9 de novembro de 1814 (Tambellini, 2000), com fundamento de possuir fazenda, gado e escravaria, o que nos leva para uma data provável de chegada do doador e família a esta região nos primeiros anos do século XIX, considerando-se  que naquele censo de 1812 Germano e Ana Luísa foram recenseados, com filhos, gado e plantações. A posse mansa e pacífica de terras, o cultivo e a criação eram condições para justificar a concessão de sesmarias, tudo isso demanda certo tempo entre a chegada, o estabelecimento e a produção agropecuária para sustento da família e pequeno comércio local até o pedido para o Governo da Capitania, na época encabeçado pelo bispo Dom Mateus de Abreu Pereira.
                        De onde provinham esses “mineiros”, povoadores de Batatais na segunda hora?
                        No caso de Germano Moreira e Ana Luísa, provinham de Barbacena e Aiuruoca, respectivamente.
                        A atual Barbacena teve por berço a Fazenda Borda do Campo, terra conquistada aos índios purís, propriedade, ainda no século XVII, dos bandeirantes Garcia Rodrigues Pais e seu cunhado Domingos Rodrigues da Fonseca Leme. Natural de Borda do Campo, onde nasceu em outubro de 1778, Germano Moreira deve ter migrado para Aiuruoca ainda menino, na companhia dos pais Hipólito Moreira dos Santos e Maria Vicência Alves de Jesus e mais um ou mais irmãos.
                         Não sabemos exatamente quais os motivos que levaram a família dos pais de Germano a se deslocar de Barbacena para Aiuruoca ainda em fins do século XVIII. É certo que já estavam estabelecidos em Aiuruoca pelo menos em 1792, que é o ano de nascimento de José Alves Moreira, um dos irmãos mais novos de Germano. 
                        Barbacena, também conhecida por “Cidade das Rosas”, rica e orgulhosa dos seus quase 130 mil habitantes,  teve história movimentada, foi berço de cinco inconfidentes: Domingos Vidal Barbosa Lage, Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, Padre José Lopes de Oliveira, Padre Manuel Rodrigues da Costa e  José Aires Gomes; em razão da Inconfidência Mineira, o brasão e as armas de Barbacena ostentam a figura de um braço estendido, em memória de um dos braços de Tiradentes que foi exposto no adro da Igreja e ali sepultado.
                          A mesma Barbacena tomou a defesa de D. Pedro I no episódio do “Fico”, em janeiro de 1822, prometeu tropas e armas, se fosse necessário, por isso recebeu o título imperial de “muito nobre e leal vila”. A cidade ainda teria participação efetiva na Revolução Liberal de 1842, na Guerra do Paraguai e nas Revoluções de 1930 e de 1932.
                         Nas muitas voltas que a História dá, curiosamente Barbacena, a antiga Borda do Campo, passou por um processo de mudança de sede da freguesia, criada em 1725, provisoriamente na antiga capela até 1730, depois na “Igreja Nova” e atual matriz de Nossa Senhora da Piedade, construida a partir de 1743, entregue ao culto em 1748 e concluída em 1764. Em torno da “Igreja Nova” ergueu-se o Arraial de Nossa Senhora da Piedade, depois vila (1791) e cidade (1840).
                        Se lá em Barbacena como cá em Batatais o processo de mudança da sede freguesia foi tumultuado e com queixas ao Bispo e ao Rei, não se sabe, o certo é que foi Germano Moreira que ajudou a apaziguar os ânimos batataenses com a doação de terras, justamente...um filho de Barbacena!  Coincidência ou ironia da História?
publicado em A Notícia, 04/05/2012

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