quinta-feira, 3 de maio de 2012

A vingança imperial de Josefina
Sérgio Corrêa Amaro *
                        Se quase todo mundo tem “esqueletos no armário”, como diz a expressão inglesa, nas famílias reais não poderia ser diferente e pelas vias da consanguinidade - pelo amor ou pela política - algumas situações ao longo da História chegaram a ser cômicas se não fossem trágicas.
                        O sonho imperial de Napoleão Bonaparte (1769-1821) tinha um “ligeiro” obstáculo: a falta de um herdeiro do sexo masculino. Apaixonado pela bela viúva Josefina de Beauharnais, nascida Marie-Josèphe-Rose de Tascher de La Pagerie (ilha da Martinica, 1763 – Malmaison, França-1814), Napoleão adotou como filhos os dois enteados, Eugênio e Hortência, nascidos do primeiro casamento de Josefina. A eles voltaremos mais adiante.
                        Napoleão sempre acreditou que fosse estéril, impossibilitado de gerar o tão desejado filho-herdeiro,  até que nasceu Léon, de uma jovem amante, Eléonore Denuelle. Enfurecido pelas muitas traições da esposa  enquanto estava em campanhas militares e com o pretexto de fazer aliança com a Áustria, Napoleão exige o divórcio de Josefina e se casa com Maria Luísa, princesa austríaca, mãe de seu único filho legítimo, Napoleão II, sempre fraco e doente,  falecido aos 25 anos, sem descendência.
                        A esta altura, quem diria, por exemplo, que Napoleão Bonaparte, general vitorioso e imperador dos franceses, fosse cunhado do nosso D. Pedro I?
                        Pois eram, de fato e de Direito.  A primeira esposa de D. Pedro, a imperatriz Leopoldina, era irmã mais nova de Maria Luísa, a segunda esposa de Napoleão Bonaparte.
                        Algum tempo antes do cunhadio, Napoleão havia invadido a Espanha e Portugal, o que provocou a transferência da família real portuguesa para o Brasil e, na sequência, o início do processo de independência nacional.
                        Porém, as relações de parentesco de D. Pedro e Napoleão não parariam por aí. Viúvo, o jovem imperador português procurou muito pela Europa uma princesa que fosse “de bom nascimento, bela, culta e virtuosa”. Com as sucessivas recusas das oito primeiras candidatas, o nível de exigência baixou um pouco e, afinal, o Marquês de Barbacena e o Visconde de Pedra Branca contrataram o casamento do imperador com Amélia de Leuchtenberg (1812-1876) e quem era ela? Ninguém mais que a quarta filha do príncipe Eugênio e, por isso, neta de Josefina, a imperatriz repudiada por Napoleão!
                        As coisas se complicariam ainda um pouco mais...o irmão de Dona Amélia, príncipe Augusto de Beauharnais, igualmente filho do príncipe Eugênio e neto de Josefina, foi casado com Dona Maria II, filha de D. Pedro I e rainha de Portugal. O casamento durou pouquíssimo, o jovem príncipe consorte morreria de difteria dois meses após o casamento e sem descendência. Nesse meio tempo, D. Pedro foi cunhado e sogro de Augusto, o irmão de sua esposa.
                        Voltemos à outra filha da imperatriz Josefina, Hortência, que embora fosse talentosa, teve vida atribulada na corte do padrasto Napoleão Bonaparte que a casou com o próprio irmão Luís Bonaparte, rei da Holanda. Mais um parentesco complicado, Napoleão era cunhado da própria enteada!
                        Um dos filhos de Hortência e Luís, o futuro Napoleão III foi eleito primeiro presidente da República Francesa, em 1848. Sem vontade alguma de deixar o poder, Napoleão III se tornou imperador por golpe de 1852, continuador do pensamento e da obra bonapartista, reinou até 1870, deposto após a batalha de Sedan. Também neto de Josefina, Napoleão III transformou a Paris medieval na Cidade Luz como a conhecemos hoje, apoiado no brilhante prefeito e remodelador da capital francesa, o Barão Haussmann.
                        Se os sonhos imperais de Napoleão Bonaparte não se tornaram realidade, nem por isso seus ideais caíram no esquecimento; pelo contrário, a onda revolucionária e liberal inflamaria a Europa de todo o século XIX com desdobramentos para as Américas portuguesa e espanhola.
                        E os esqueletos no armário? Pois bem, continuam firmes e fortes! A vingança da imperatriz Josefina se materializou a tal ponto que, mais do que a Rainha Vitória, pode ser considerada a verdadeira “avó da Europa”, vejamos: antepassada de um imperador francês, de um príncipe consorte de Portugal, de uma imperatriz do Brasil, de um grão-duque da Rússia e das atuais cabeças coroadas da Suécia, Noruega, Bélgica, Luxemburgo e Dinamarca.

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