quinta-feira, 3 de maio de 2012

NOSSAS RAÍZES MINEIRAS
Sérgio Corrêa Amaro *
                          Os atuais Estados de São Paulo e Minas Gerais tiveram conflitos de divisas durante quase todo o século XVIII e boa parte do século XIX, seja por razões políticas, seja, muito mais, por razões fiscais, que explicam a fúria arrecadadora do imposto real pela Coroa portuguesa, o famigerado quinto sobre a produção anual de ouro.
                        Feitas as primeiras descobertas de ouro pelo bandeirante paulista Antônio Rodrigues Arzão ainda no final do século XVII, quase certo que seja em 1693, no Rio Casca, região do Cuieté (mato bravo), logo que a notícia do “descoberto” correu por Portugal e ilhas da Madeira e Açores, a Coroa tratou rapidamente de tentar “cercar” e controlar o máximo possível o novo Eldorado. Pouco mais tarde, em 1698, surgia Ouro Preto ou Vila Rica, ponto alto da bandeira de Antônio dias de Oliveira.
                        Aumentam as tensões, aumentam as pressões....e assim foi criada a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro em 1709, para efetivar o controle português na região na esteira da célebre Guerra dos Emboabas (1707-1709) os “nativos” paulistas bandeirantes/descobridores contra os forasteiros (brasileiros de outras regiões e portugueses recém-chegados).
                        Cinquenta mil pessoas foram chegando e se estabelecendo ao longo dos vários caminhos que conduziam às Minas Gerais, formando “pousos”, futuras vilas e cidades, mas os problemas só cresciam, especialmente os conflitos pela posse da terra, os ligados à escravidão e aos quilombos (o mais famoso foi o quilombo do Ambrósio) e a questão crucial do abastecimento – várias vezes a fome assolou a região, os mineradores tinham as bruacas cheias do rico  metal e nada para comer, muitos morriam à míngua, índios inclusive, de desnutrição propriamente dita ou envenenados pelo que comiam sem cuidado, como os “bichos de taquara” mal-cozidos,  uma gorda larva de mariposa que vive no bambu.
                        Na fome valia de tudo que voa, anda ou rasteja: macacos, quatis, papagaios, antas, capivaras, jaburus, cobras, lagartos e as apreciadíssimas formigas.
                        O problema do (des)abastecimento era tão sério que o preço dos gêneros, por óbvio, subia aos céus e era pago em ouro, um prato de sal custava 8 oitavas, uma galinha 12, um pouco de fumo por 5, já um cachorrinho ou um gatinho eram iguarias refinadas, 32 oitavas cada um! A oitava equivalia a 3,5 gramas ou 1/8 de onça (28,352 gramas).
                        Nesse contexto de opulência e pobreza, fartura e fome, fausto e decadência, muitos habitantes dedicavam-se à produção e comércio de gêneros alimentícios, como milho, feijão, gado bovino e suíno, toucinho, sal, azeite, vinho, queijos, farinha e tudo o mais que um aventureiro bem ou mal sucedido pudesse precisar para garimpar suas datas de terra, um reinol ou um paulista para se estabelecer em definitivo na mais rica província do Brasil.
                        Enquanto havia ouro em quantidade, tudo correu mais ou menos bem, porém lá pelos anos de 1760 em diante o precioso minério escasseava, seja pela esgotamento das jazidas, seja pela falta de tecnologia para aprofundamento das minas ou até pela falta de novas áreas e se avistavam fazia tempo os novos horizontes de Goiás e Mato Grosso, com outras promessas de riquezas...
                        Os “entrantes” que foram chegando pelo final do século XVIII e primeiras décadas do século seguinte para as bandas dos rios Pardo e Sapucaí vinham com ânimo de ficar em definitivo,  buscar campos de pastoreio para seu gado e espaço para plantar milho e feijão, comércio para os queijos e toucinho, prova disto é que vinham com família, escravos e trastes, tecendo uma rede de fazendas e sítios, uma capela aqui, uma freguesia  ali, um casario embrião de uma vila mais adiante.
                        Por estas e por outras, desde muito cedo vamos encontrar na Paragem dos Batatais, no Campo Lindo das Araras, na vila do Bom Jesus da Cana Verde gente vinda de Barbacena (Borda do Campo), Aiuruoca, Campanha do Rio Verde, Carrancas, São João del-Rei, Baependi, Andrelândia, Ribeirão do Carmo (atual Mariana) e outras tantas, definindo nossa “mineiridade”, se é que podemos chamar assim este nosso sabor pão-de-queijo com leite e café, raízes mineiras que deram flores e frutos, a nossa gente. Voltaremos ao tema.

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