segunda-feira, 21 de maio de 2012

NOSSAS RAÍZES MINEIRAS - Aiuruoca

Sérgio Corrêa Amaro *
                        A segunda leva de povoamento de Batatais se deu realmente com a chegada de habitantes das Minas Gerais, homens em busca de terras para plantio de roças e campos de pastagens ou, muito frequentemente também, famílias inteiras que se deslocaram de vários pontos para a região conhecida por Sertão do Rio Pardo.
                        Seja pela decadência do ouro, que mal explica a migração, seja pela necessidade de buscar mais terras para expansão das atividades rurais de produção para o comércio regional, o fato é do final do século XVIII para as décadas iniciais do século seguinte os “entrantes” atravessaram as margens do Sapucaí-Mirim e do Pardo, dando conformação a uma extensa faixa na divisa dos atuais Estados de São Paulo e Minas Gerais, pousos, freguesias e vilas que viriam a ser, no futuro, Franca, Batatais, Ituverava, Igarapava, Patrocínio Paulista, dentre outras.
                        Num primeiro momento, os mineiros se dirigiam ao Sertão da Farinha Podre, atual região do Triângulo Mineiro, pertencente à província de Goiás no século XVII, só muito mais tarde reconhecido como parte integrante de Minas Gerais.
                        O momento seguinte – nos finais dos anos 1700 – é o do início da migração em direção ao Sertão do Rio Pardo, terras em quantidade e qualidade, a roda econômica tomava novo impulso: concessão de sesmarias, elevação de freguesias, posse pura e simples de áreas consideradas devolutas e posterior adequação às normais jurídicas, compra e venda, plantio de milho e algodão, criação de gado bovino e cavalar, produção de toucinho, queijos e tecidos rústicos.
                        O casal Germano Moreira e Ana Luísa, doadores em 1822 do patrimônio do Bom Jesus da Cana Verde, devem ter vindo para Batatais em algum momento entre 1801 - ano em que se casaram em Aiuruoca - e  1812, pois naquele ano foram recenseados já estabelecidos, com terras nas fazendas São Pedro e Santana.
                        Germano Moreira era natural de Barbacena, já comentada em um de nossos artigos anteriores e Ana Luísa, filha de Luís Fernandes Chaves e Maria da Conceição,  era nascida em Aiuruoca, pequena cidade do Sul de Minas, conhecida como “paraíso dos ecoturistas” entre outros atributos igualmente apreciáveis.
                 De Aiuruoca vieram outras tantas famílias para o segundo povoamento de Batatais, a exemplo da família Arantes, tronco de Altino Arantes, um dos filhos mais ilustres de nossa terra.
                        Aiuruoca é aportuguesamento de topônimo tupi, junção de ajuru (papagaio) e oca (casa), traduzido para “casa de papagaio”, “papagaio criado na pedra” ou “pedra do papagaio” (CARVALHO, 2011); outro autor trata como “terra das araras” (SILVA, 1966, citado por Carvalho, 2011). Não é estranha coincidência o fato de a terra natal de Ana Luísa ser conhecida como “terra das araras” e as terras doadas em Batatais serem no “Campo das Araras”? Talvez tenhamos aí um interessante campo de pesquisa toponímica.
                        Aiuruoca teria sido descoberta por volta de 1705/1706 pelo bandeirante paulista João de Siqueira Afonso em busca de ouro nas cabeceiras do rio Grande, foi elevada a vila em 1834, com sede e mais paróquias de Turvo, adquirindo ou perdendo Bocaina, Livramento, Guapiara, Serranos, Bom Jardim, Alagoa e São Vicente Ferrer ao longo do século XIX, chegou a município e cidade em 1868(PARANHOS, 2005).
                        Aiuruoca tem população de pouco mais de 6.000 habitantes, área de 651 km2, está situada a 989 metros acima do nível do mar, de relevo bastante movimentado, o ponto mais alto é o Pico do Papagaio, com 2.293 m, o turismo é forte nas trilhas, cachoeiras, esportes radicais, matriz de N. Senhora da Conceição (1726), festas religiosas, esoterismo, pousadas e hotéis que oferecem tranquilidade, conforto e a tradicional comida mineira e o “Carnaval fora de época”, realizado em praça pública uma semana antes do Carnaval oficial, evento que atrai milhares de turistas, mais um ponto em comum com  Batatais.
                        Pequena joia da Natureza nas Minas Gerais, Aiuruoca merece uma visita; a ela os batataenses podem se ligar por mais de um motivo: histórico, ecoturístico, esotérico e - por que não? -  curtir o carnaval de lá primeiro e depois aqui.
publicado em “A Notícia”, 18.05.2012   

Um comentário:

  1. Interessantíssimo Serginho. Como batataense, sempre me senti meio mineiro.

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