domingo, 6 de maio de 2012

Você sabe com quem está falando?

Sérgio Corrêa Amaro *
                        A pergunta, quase sempre em tom esnobe ou orgulhoso, pode ter várias respostas. Não é o caso, aqui, de tratarmos o tema como estudado  pelo renomado  antropólogo Roberto DaMatta em suas análises das regras e costumes brasileiros.
                        A questão é se sabemos (ou não) realmente com quem estamos falando no que refere a apelidos, nomes de família, alcunhas ou patronímicos.
                        Patronímicos são sobrenomes derivados do nome do pai; apelido é o mesmo que “nome de família”, em Portugal em particular e para a genealogia como termo técnico. A alcunha designa uma característica positiva ou negativa de uma pessoa, um lugar ou até de um objeto. A cidade de Cláudio, em Minas Gerais, é conhecida como cidade das alcunhas, pois a maioria de seus habitantes tem um apelido. Curiosamente, Cláudio  - quer dizer manco ou coxo, de claudicante, claudicar, já a cidade deriva do nome de um escravo -  tornou-se vila em 1911, independente de Oliveira, município mineiro e nome de família adiante citado.
                        O assunto dos sobrenomes é extenso, vamos abordá-lo em linhas gerais, dada a limitação de espaço e para que sirva, ao menos, como indicativo nas pesquisas pessoais de genealogia e história familiar.
                        O célebre sobrenome SILVA, o mais comum no Brasil e em Portugal, tem sua origem em Dom Guterre Alderete da Silva, que adotou o apelido para a linhagem. Esse Guterre Alderete nasceu por volta de 1040, filho de Pelayo Gueterres, senhor da Honra e da Torre de Silva, em Valença, Portugal. Silva é um sobrenome toponímico, isto é, derivado do nome de um lugar, no caso, silva provém de floresta ou bosque, em latim (veja silvícola e selvagem). Várias localidades em Portugal e Espanha se chamam Silva. Esses primeiros do nome Silva eram nobres galegos que passaram para Portugal no séquito do conde D. Henrique (1066-1112), antes mesmo do nascimento da nacionalidade portuguesa.
                        A popularidade do apelido Silva vem desde o século XVII, em Portugal e, por consequência, no Brasil. Há registro de um Pedro da Silva, alfaiate estabelecido em São Paulo em 1612.
                         Portugueses degredados querendo começar uma vida nova no Brasil adotavam o sobrenome Silva proporcionado pelo relativo anonimato e também milhares de escravos africanos foram batizados por padres católicos que lhes davam um nome, geralmente de seu dono, acrescido de um sobrenome, o mais comum era mesmo o Silva.
                        O segundo sobrenome mais comum no Brasil é, sem dúvida, SANTOS, de origem igualmente portuguesa, era dado, de início, aos nascidos em 1º. de novembro, dia de Todos os Santos ou às crianças que nasciam ou eram abandonadas no Hospital de Todos os Santos, em Lisboa, construído entre 1492 e 1504, também conhecido por Hospital Real, Grande ou dos Pobres. Este hospital desapareceu no terremoto de 1755.
                        O sobrenome português OLIVEIRA também é de origem geográfica, do lugar em que se plantavam muitas oliveiras, as árvores das azeitonas (oliva), antigas e nobres famílias ibéricas ostentavam o apelido; o primeiro a adotá-lo como nome de família foi Pedro de Oliveira, senhor do Morgado de Oliveira, pai de Martinho Pires de Oliveira, arcebispo de Braga em 1306.
                        Da mais antiga vila de Portugal, Ponte de Lima, distrito de Viana do Castelo,  provém o nome de família LIMA, pelo rio do mesmo nome, que nasce na Galiza, Espanha,  com o nome de Limia. O primeiro do nome foi D. João Fernandes de Lima (1170-1245), chamado “O Bom”, natural daquela vila. Lima, no latim,  quer dizer paliçada ou cerca, servia para designar limites ou fronteiras, se for proveniente do celta significa “esquecimento”.
                        Até onde vimos, não há por que considerar um sobrenome “comum” ou “popular” como sem origem ou de origem desconhecida ou “menos nobre” que esse ou aquele, as informações da História aí estão a confirmar, apontando interessantes caminhos de investigação.

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