quinta-feira, 3 de maio de 2012

A Marquesa de Santos e os “primos" de Batatais
*Sérgio Corrêa Amaro
                       
                        Muita tinta e papel foram gastos nos escritos a respeito da Marquesa de Santos, uma mulher além de seu tempo e dos costumes da época, primeira metade do século XIX.
                        O caso amoroso mais duradouro de Dom Pedro I, Domitila de Castro do Canto e Mello nasceu em São Paulo em 27 de dezembro de 1797, filha do visconde de Castro, João de Castro do Canto e Mello e de Escolástica Bonifácia de Toledo Ribas, faleceu em São Paulo aos 70 anos, está sepultada no Cemitério da Consolação, túmulo sempre florido, bem conservado, de boas dimensões, mas nada imponente, apenas sóbrio.
                        Da bela marquesa tudo se pode dizer, menos que não tivesse vocação para a maternidade: com o primeiro marido teve três filhos, com Dom Pedro, cinco e com o segundo marido, o Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, mais seis, o que soma 14 filhos!
                        Nosso primeiro imperador não deixava por menos: 18 filhos, contados das duas esposas legítimas e das várias amantes, inclusive uma freira portuguesa e a própria Baronesa de Sorocaba, irmã da amante-mor, a Marquesa de Santos, para escândalo geral...Em curto parêntese, diga-se que Dom Pedro era considerado bom pai, carinhoso e que acompanhava a educação dos filhos.
                        De vida aventurosa, influente na Corte do primeiro reinado, Domitila conheceu o príncipe Dom Pedro em junho de 1822, em pleno processo da Independência; a relação, mais ou menos tempestuosa ao longo do tempo, durou até que Dom Pedro se casasse novamente, desta vez com a princesa Amélia de Leuchtenberg, e esta exigiu no contrato de casamento, o banimento da Marquesa para São Paulo.
                        Dom Pedro não podia se dar ao luxo de muitas exigências ou recusas; dona Amélia, afinal, era a nona candidata ao casamento, as oito princesas anteriores haviam se recusado ao noivo, a fama de marido infiel do imperador corria a Europa fazia tempo e, dizem, o primeiro sogro, pai da falecida Imperatriz Leopoldina, fazia campanha cerrada contra o genro namorador.
                        Mas por que Marquesa de Santos? Se a titular era natural de São Paulo e vivia no Rio? Dom Pedro achou mais uma forma de irritar os políticos santistas, os irmãos Andrada (José Bonifácio e Antônio Carlos), ferrenhos opositores da amante do imperador, concedendo a Domitila não só o título de Marquesa, mas também o de Viscondessa com grandeza, o que não era pouco. Duas filhas com Domitila receberam títulos até superiores, como a Duquesa de Goiás (Isabel Maria de Alcântara Brasileira, 1824-1898, educada na Europa, casou com um Conde e Barão da Baviera) e a Duquesa do Ceará, esta morta poucos meses depois de nascida.
                        Pois bem, descendia a Marquesa, por sua mãe Escolástica Bonifácia de Toledo Ribas, de Dom Simão de Toledo Piza (1612-1668), de quem foi tetraneta; ele era português, filho de espanhóis, de vida aventurosa, natural de Angra, Ilha Terceira dos Açores, casado em São Paulo com Maria Pedroso, foi juiz de órfãos e juiz ordinário, dono de sesmaria no rio Jundiaí. A época não podia ser mais turbulenta: a guerra pela restauração da coroa portuguesa depois do domínio espanhol (1580-1640). Toda a linhagem de Toledo Piza no Brasil teve início com esse dom Simão, do qual descendem, também, os Corrêas de Toledo, de Aiuruoca (MG) e de Batatais, dentre os  quais meu quarto avô Antônio Corrêa de Toledo (falecido em 1865), casado com Maria Fernandes Chaves,  irmã de Ana Luísa, esposa de Germano Moreira. Na família haveria no futuro outros casamentos unindo Fernandes Chaves e Corrêas de Toledo, parentes mais ou menos distantes entre si.
                        Percorrendo a árvore genealógica ascendente, vez ou outra descobrimos “primos” genealógicos interessantes, personagens notáveis alguns, outros nem tanto, da maioria temos poucas informações, uma data ou um local, quando muito; de outros, mais documentados, podemos extrair curiosas lições, como a dessa “prima” tão polêmica, a Marquesa de Santos.
                        Nas décadas finais de sua vida, Domitila foi católica devota, caridosa protetora dos pobres e doentes e dos estudantes sem recursos  da Faculdade de  Direito do Largo São Francisco.             
                       

Um comentário:

  1. Parabéns, Serginho. Seus textos são muito bons. Além de resgatar a história com sua particular abordagem, mostra com a bela Batatais tem raízes aristocráticas! Um abraço do amigo Ricardo Dosso.

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